Chac Mool, mexica. Pós-Clássico Tardio. Fotografia de Rafael Doniz.
Uma questão que gostaria de clarificar, antes de iniciar o tema desta entrada, tem que ver com o termo Aztecas, vulgarmente atribuído para denominar, se não os habitantes de Tenochtitlan, pelo menos todas as diferentes etnias do planalto central mexicano, dominados pelos tenochcas. No entanto, o termo Azteca é um grave erro convertido em verdade, propagado por interpretações erróneas das fontes; além de se ter tornado um imperativo comercial que advêm da longa perpetuação do mesmo erro. Na realidade, nas Cartas de Relación de Hernan Cortés, este nunca chama Aztecas aos habitantes de Tenochtitlan, assim como acontece o mesmo na obra de Bernal Díaz del Castillo. O mesmo ocorre com as distintas relações dos conquistadores espanhóis. Tão pouco aparece esta denominação na obra de Sahagún, Dúran, Motolinia, Torquemada, Boturini, Serna, Mendieta. Da mesma forma que não aparece na Historia de los Mexicanos por sus Pinturas, nem nos anais de Cuahtitlan, Leyenda de los Soles, Códice Magliabechi, Vaticano, Telleriano, Borbónico, etc. O termo Aztecas foi provavelmente implantado por William Prescott (The Conquest of Mexico, E. U. A. 1843) e difundido pelo estudioso alemão Eduard Seler, na segunda metade do século XIX. Na antropologia mexicana, é uma herança cultural do tempo da ditadura de Porfírio Díaz.
O início do mito das origens, segundo o Códice Boturini. Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México. A migração inicia-se na data «1 faca». No centro, indicado pelo glifo «monte encurvado», o deus Huitzilopochtli fala do interior de uma gruta.
De facto, houve uma migração de povos do norte do México para o planalto central. Da última destas vagas, estes teriam vindo de Aztlan Chicomoztoc, governada pelos Aztecas (Cristobal del Castillo, 1597, historiador indígena). No entanto, quem efectuou esta migração foram os seus macehuales, que eram os mecitin, pescadores e camponeses dos senhores de Aztlan. O nome Mecitin tem a sua origem numa divindade lunar, e é referido na obra de Sahagún, livro X capítulo XXIX parágrafo XIV, destinado precisamente a contar a história dos mexicanos: «Um apenas chama-se mexicatl, muitos chamam-se mexicah. Este nome mexicatl deriva do nome mecitli. Me quer dizer metl (maguey), citli “lebre”. Deveria dizer-se mecicatl; por ter sido alterado diz-se mexicatl.» A lebre é um símbolo da lua e o cultivo do maguey, para produzir pulque, são práticas agrícolas que, até à actualidade, estão relacionadas com o ciclo lunar. Outras fontes assinalam os oito grupos migrantes como Culhuaques (Teo Culhuacan, ou Divino Culhuacan, para diferenciar do Culhuacan situado no planalto central), nestas fontes os glifos assinalam as tribos que se reconhecem de origem Teoculhuaque. Os Mecitin, macehuales dos Aztecas Chicomoztocas, aparecem ambos como povos teoculhuaques, diferenciados por quem é o seu deus num mundo onde religião é política e toda a política se expressa em termos religiosos. Citando uma vez mais Sahagún: «Conforme a tradição, o sacerdote que dirigiu os mexica até aqui tinha como nome Mecitli. Diz-se que ao nascer chamaram-no Citli (lebre) e encostaram-no a uma penca de maguey, ali e por causa disso foi chamado Mecitli. E este ao crescer fez-se sacerdote guardião do deus. Diz-se que conversava pessoalmente com o deus. Por isso honraram-no muito e todos obedeciam ao guia. E por isso os governados que guiou chamavam-se mexicas.»
Vaso com a máscara de Tlaloc. Museu do Templo Mayor, Cidade do México.
Quando as tribos chichimecas entraram pela primeira vez no Vale do México, cada cidade já tinha o seu próprio culto religioso, centrado em divindades da natureza, anciãos divinizados e heróis lendários. Não havia portanto um conceito de “família dos deuses” como nas mais antigas civilizações mediterrânicas, mas um grupo de divindades, muitas vezes comuns, cada uma identificada com as várias esferas universais.
À medida que o “império” mexica se expandia, a principal divindade de uma comunidade conquistada era incorporada no panteão dos mexica. Em Tenochtitlan, um edifício particular, no recinto cerimonial – o coateocalli – era dedicado como a casa da parafernália e fetiches dos cultos capturados de outras comunidades. Estas divindades eram extraordinariamente diversas, no entanto as suas características fundamentais mostram fortes similitudes, pois elas estavam estreitamente ligadas à terra e ao céu.
Um estudo exaustivo do sistema religioso mexica ainda não foi inteiramente realizado, no entanto a investigação de Henry Nicholson trouxe um grande esclarecimento sobre a devoção das divindades mexicas. Nicholson constatou que muitos, se não todos, os cultos poderiam ser agrupados em ramos básicos, que podem ser nomeados pela divindade dominante desse complexo.
Pormenor de urna com a representação de Tezcatlipoca. Museu do Templo Mayor, Cidade do México.
De forma breve e sucinta, vamos ver quais os deuses mais significativos deste imenso panteão, começando por uma das divindades mais antiga da Mesoamérica: Tezcatlipoca ou “O Espelho Fumegante”. Esta divindade é muitas vezes caracterizada como a mais poderosa do antigo panteão e está associada à noção de destino ou sorte. O seu emblema, um espelho de obsidiana, era um implemento associado à adivinhação, devendo reflectir origens xamanísticas. Existem poucas dúvidas de que o seu culto estava identificado particularmente com a realeza, estando o seu templo em destaque no recinto cerimonial de Tenochtitlan, imediatamente ao lado do Templo Maior. Naturalmente, este último era dedicado a Huitzilopochtli, o deus guerreiro e protector da tribo mexica, conjuntamente com Tlaloc que, como sabemos, é uma divindade ancestral que remete para os tempos da cidade clássica de Teotihuacan. Consequentemente, esta divindade ligada à água, tempestades, montanhas e nuvens era central para civilizações que dependiam completamente da agricultura e das forças telúricas.
Tonatiuh, o sol, era outra das forças supremas adoradas no México antigo. O sol era percebido como uma fonte primária de vida cujos principais devotos eram os guerreiros. Estes estavam encarregados da missão de providenciar o sol com vítimas sacrificiais, alimentando assim os ciclos instáveis da vida, conforme era a percepção do universo que mais adiante veremos no ciclo dos mundos anteriores.
No tempo dos mexica, Quetzalcoatl, ou a “Serpente Emplumada”, tinha uma grande variedade de associações. Era o nome de uma divindade da natureza – Ehecatl, o vento; era um título real; figura nos tempos dos toltecas como um título militar e emblemático; era o nome de um lendário líder sacerdote; era o título do supremo sacerdote de Tenochtitlan; e era ainda o culto padroeiro das escolas – o calmecac – para a nobreza e o sacerdócio. Este deus era a divindade central na cidade de Cholula que, como já vimos, lhe dedicou a maior pirâmide construída em toda a Mesoamérica.
Pedra Tlaltecuhtli. Com 12 toneladas, esta representação da deusa da Terra é o maior monólito mexica. Descoberto em 2006 encontrava-se, ao centro, na base do Templo Mayor. Fonte: Internet.
Os cultos da terra eram tão prolíferos como os do céu. Na sua forma mais básica a Terra é referida como Tlaltecuhtli e a sua imanência é dual, feminina/masculina. A terra não era apenas um dador da vida, ela era também o recipiente final de tudo o que cresce e se move na sua superfície. Outras imagens aludindo aos poderes regenerativos da terra assumiam a forma de personificações rituais – ou ixiptlas – que tinham um papel central nas performances públicas dos rituais religiosos. Estas pessoas representando os deuses, no caso da terra mãe eram identificados com a procriação e a fertilidade agrícola. Os seus nomes, Teteoinnan, Tlazolteotl, Tonantzin, Izpapalotl, Cihuateteo, entre outros, descrevem os diversos poderes da terra representados nos seus cultos variados. Talvez que o deus que melhor caracteriza a ideia de ixiptla seja Xipe Totec, ou “Nosso Senhor o Esfolado”. O festival dedicado a este deus ocorria na primavera e muito do seu imaginário está ligado à regeneração da natureza. O personificador de Xipe Totec usava um fato de pele humana esfolada, numa metáfora literal de transfiguração metafísica.
O panteão mexica apresenta-se de uma grande complexidade, sendo impraticável dar aqui uma referencia completa das divindades adoradas e, sobretudo, de desenvolver com profundidade as inúmeras relações que despoletavam na sociedade e qual o seu sentido particular.
A Estela do Sol. Levantamento a traço de Dr Emily Umberger.
Os mitos mexica da criação foram compilados pelos frades espanhóis. Estes mitos da cosmogonia descrevem o princípio do mundo e a sequência de eras cujas transformações levaram à terra do presente, com os seus habitantes humanos e animais. Na base desta noção está o mito das cinco épocas, onde à original criação da terra, seguiu-se a sua destruição e uma sucessão de quatro criações imperfeitas que levaram à quinta e presente era. A ideia de múltiplas criações imperfeitas era muito velha e amplamente espalhada por toda a Mesoamérica, como se pode ver nos mitos maias registados no livro dos k’iche’ o Popol Vuh. Nos textos mexica cada uma das cinco criações é chamada de “Sol”. A sequência das eras oficialmente aceite em Tenochtitlan está registada num famoso monumento escultórico conhecido como “A estela dos cinco sois”, conhecido também como o “Calendário Azteca”, e também no trono da coroação de Motecuhzoma II. No centro deste calendário encontra-se o signo correspondente à era actual, ou Movimento. Em seu redor encontram-se os signos que representam as eras anteriores: Jaguar, Vento, Chuva e Água. Estes signos estão circundados por um interminável anel representando os vinte dias do calendário ritual ou tonalpohualli, andando ao inverso dos ponteiros do relógio; todo o monumento fechado em si por duas Xiuhcoatl ou “Serpentes de Fogo”. O quinto “Sol” surge em Teotihuacan, com o sacrifício dos deuses, particularmente o humilde Nanahuatzin e o mais formal Tecuciztecatl. Nanahuatzin será o primeiro a imolar-se pelo fogo transformando-se no sol, enquanto Tecuciztecatl o precede, transformando-se na lua. Segundo os mexica, o nosso mundo está condenado a terminar com muitas fomes e tremores de terra.
Arqueología Mexicana. Vol. VII – Núm. 41. Calendarios Prehispánicos, 2000.
Antes de falar da arte e da guerra, será importante ver, mesmo que de forma abreviada, o sistema de calendário dos mexica. A disposição do tempo governava todas as actividades importantes da vida individual assim como da programação e performance dos eventos organizados pelo estado. Como muitos outros povos da antiguidade na Europa e na América, os mexica não vivam o tempo como uma sucessão de movimentos uniformes, alongando-se monotonamente do passado indefinido para o futuro indefinido. Nem era o seu tempo de qualidade indiferente e uniforme. Será impossível vincar o facto que o tempo para os mexica era pleno de movimento e energia, o portador de mudança e sempre carregado de um sentido miraculoso de acontecimento. Os mitos cosmológicos revelam a preocupação com o processo da criação, destruição e recriação, e o sistema de calendário reflecte estas noções sobre o carácter do tempo.
A cerimónia do Fogo Novo. Codex Borbonicus, secção da página 34. Manuscrito em acordeão, 39 x 39.5 cm. Cidade do México, pré-conquista ou início Colonial. Bibliothèque de l’Assemblée Nationale, Paris.
Existem dois aspectos da contagem do tempo, cada um com funções diferentes. O primeiro era o intenso tonalpohualli “a conta dos dias”, o ciclo já referenciado de 260 dias, usado com o propósito de adivinhação. Este ciclo repetitivo de dias formava o almanaque sagrado, largamente utilizado na Mesoamérica muito antes do tempo dos mexica. A segunda divisão do sistema de calendário era a conta solar dos 365 dias, conhecido como o xiuhpohualli, “conta dos anos”, que regulava o ciclo recorrente dos festivais sazonais ao longo do ano. Estes dois calendários estavam em operação simultânea. Como entre os maias, eles podem ser vistos como dois círculos engajados, em que o primeiro dia da roda de 365 dias alinhava com o primeiro dia do calendário de 260 dias, cada 52 anos. Este período de 52 anos constituía um “século” mesoamericano. A passagem de um período de 52 anos para um novo era sempre ocasião de importantes e dramáticos festivais religiosos, já que era uma altura em que todo o universo poderia vacilar para o seu final ou para a manutenção da vida mediante o estreito preceito das actividades religiosas.
O ciclo de 260 dias era composto por um grupo de 20 dias nomeados e numerados. Cada dia tinha um nome, como coelho, água, jaguar, etc, que é representado pelo pictograma do animal ou objecto particular. O ciclo de 20 dias interligava-se com um ciclo rotativo de números, de 1 a 13, cada número identificado por pontos. Assim, dentro do período de 260 dias cada dia era identificado pela combinação de um dos 20 nomes com um dos 13 números – 20 x 13 = 260.
Página do Codex Borbonicus representando duas divindades. Em redor figuram os dias desta trecena, a 16ª série do calendário sagrado.
O ciclo sagrado de 260 dias era dividido em 20 “semanas” de 13 dias cada, chamado de trecenas pelos espanhóis. As contas do tonalpohualli eram guardadas em códices chamados tonalamatl, sendo que o mais famoso e genuíno é o Codex Borbonicus.
É claro a partir das crónicas espanholas que as influências registadas no tonalpohualli eram interpretadas por adivinhos profissionais. Estes especialistas eram chamados para realizarem prognósticos sobre os recém nascidos, para dar conselho sobre diferentes procedimentos de acordo com dias auspiciosos ou negativos; ou para determinar os melhores dias para a plantação agrícola.
Em relação ao calendário solar, de 365 dias, este determinava um ciclo de 18 festivais associados com as 18 vintenas, ou “meses”, terminando com 5 dias nefastos. Estes festivais eram basicamente de três tipos: aqueles direccionados às montanhas e à água, no sentido de assegurar chuva. Aqueles direccionados para a terra, o sol e o milho, assegurando a fertilidade e as colheitas abundantes. E, finalmente, aqueles direccionados a divindades especiais, particularmente aquelas identificadas como patronos de diferentes grupos comunitários ou a comunidade como um todo.
Assim como o tonalpohualli parece ter funcionado de forma similar em todas as áreas, assim também parece ter acontecido com a ordem dos festivais das vintenas, registados nos textos etno-históricos.
Serpente em pedra. Museu Nacional de Antropologia e História, Cidade do México.
Apesar do mundo ocidental aceitar a existência da arte por si própria, seria útil relembrar que para a Mesoamérica mexica a escultura não podia ser desassociada dos conceitos ideológicos, fossem eles religiosos, económicos, políticos ou sociais que estivessem relacionados com o desenvolvimento da área, antes da chegada dos espanhóis. Para os cidadãos de Tenochtitlan e por extensão a todos os povos do México antigo, a arte era uma manifestação material da sua visão do universo. Os seus símbolos, a sua associação com a identidade real ou imaginária da natureza, implicava uma linguagem visual permitindo-lhes criarem uma realidade paralela, em que o humano e o divino expressavam as mensagens secretas associadas aos conceitos da cosmogonia que determinavam a sua percepção do mundo à sua volta. O acto de criar imagens do homem, animais, plantas e seres sobrenaturais, reforça a génesis mágica do universo, no qual o destino de cada um era estabelecido num pacto primordial com os deuses. A flora e a fauna simbolizavam o poder e a força das divindades, personificando as suas acções no cosmos. Os seres sobrenaturais apresentam a verdadeira função da escultura indígena, dando forma física aos medos, ansiedades, invocando forças do desconhecido através de símbolos que são repetidos como orações ou cânticos.
Existe pouca informação acerca do valor do trabalho artístico em tempos pré-hispânicos. O texto de Diego Durán declara que os meios de pagamento variavam dependendo do recipiente, sendo que objectos valiosos eram usados com frequência para este propósito.
Pirâmide de Tenayuca. Discovering Art, 1965.
O estilo da arquitectura ritual mexica evoluiu principalmente em Tenayuca, onde os arqueólogos descobriram subestruturas de períodos iniciais debaixo de um monte de destroços. O sítio ilustra a génesis do tipo pirâmide dupla de Tenochtitlan e é o exemplo mais antigo encontrado na Mesoamérica para esta estrutura inovadora, que unia duas bases piramidais suportando um par de templos gémeos. Esta fórmula arquitectónica de sucesso foi adoptada pelos mexica e os seus vizinhos nos edifícios desenhados para a adoração das suas divindades supremas.
As origens do plano de pirâmide circular, tal como usado pelo templo mexica do deus do vento – Ehecatl – pode ser reconhecido em Calixtlahuaca no Vale de Toluca, apesar de os inícios desta forma serem muito mais antigas, remetendo para os distantes territórios maias na península do Yucatão. Vários estádios de construção foram detectados em Calixtlahuaca. Estas recorrem, com as mesmas variações estilísticas, que as habitações sagradas do deus do vento no mundo mexica; um edifício de base circular que combina uma fachada com um acesso para as escadarias, sendo a parede do templo arredondada e de tecto cónico.
Apesar do jogo da pelota – ou tlachtli – já não ser exclusivamente simbólico nos tempos de Tenochtitlan, tendo-se secularizado também como puro entretenimento ou simplesmente uma competição desportiva sujeita a apostas; o estilo arquitectónico dos seus campos teria tido a sua origem em Tula, Xochicalco ou Teotenango.
Vista geral do recinto sagrado com o Templo Mayor a partir da interpretação do arquitecto mexicano Ignacio Marquina que, apesar de desactualizado, apresenta aqui uma ideia do ambiente arquitectónico de Tenochtitlan. Fonte: Internet.
As altas fachadas das plataformas e os enormes templos que dominavam a capital de Huitzilopochtli e outras cidades do mundo mexica, com edifícios de quartos divididos em andares, servindo como armazéns de bens, eram todos caracterizados pela verticalidade. Estudos da arquitectura pré-hispânica identificam a construção do período Pós-Clássico com o elemento que termina, como uma cornija, a parte superior das balaustradas, sendo usado como base para os braseiros cerimoniais. Paralelamente, a zona habitacional continuava a usar as variantes dos pátios de Teotihuacan, ou seja estruturas horizontais sem janelas e com pátios comuns para a circulação de luz e ar. O layot da cidade de Tenochtitlan, a cidade ilha que tanto impressionara os espanhóis, era um modelo da visão indígena do universo, uma visão do cosmos que data desde o tempo dos olmecas. Essencialmente era uma mancha dividida em quatro partes cujas diagonais se encontravam no próprio centro da criação dos deuses. Este desenho surge em manuscritos pictográficos como o Codex Tro-Cortesianus do período Pós-Clássico maia, e o Codex Fejérváry-Mayer, produzido por um artista de estilo mixteca-puebla. Em ambos, a ilustração mostra a mancha da página dividida em quatro, localizando os deuses padroeiros das quatro direcções e aquele que governa o centro do universo. Uma imagem inicial da capital mexica, apresentada no primeiro folio do Codex Mendoza, conta como a cidade de Huitzilopochtli foi fundada. Uma vez mais, esta ilustração mostra as quatro divisões cardinais correspondendo aos principais quarteirões onde as famílias indígenas viviam: Teopan, Moyotlan, Atzacualco e Cueopan. Na área central, onde o imponente Templo Mayor viria a ser construído mais tarde, aparece o sinal aguardado pelos mexica na sua migração sagrada desde Aztlan, uma águia sobre um cacto de nopal.